
Que o Carnaval é sinônimo de frevo, axé e samba todo mundo já sabe. Mas… quem disse que nesta época do ano não pode ter forró? Enquanto trios elétricos e blocos tomam conta das ruas, a sanfona também entra na folia, mostrando que o ritmo nordestino tem espaço em qualquer festa. Independentemente do contexto, o arrastapé conquista os foliões que não abrem mão de um bom xote, baião e pé de serra, mostrando que a alegria deste gênero musical combina com qualquer momento.
Vale destacar que o forró vem se tornando atemporal e introduzir a sanfona no período carnavalesco tem sido algo cada vez mais comum. Em Salvador, o cantor e sanfoneiro Targino Gondim agitou o Furdunço, no último domingo (23), fazendo uma fusão de ritmos bem irreverente. O Camarote Club, também na capital, vai contar com shows de Wesley Safadão e Nattan, dois outros grandes nomes do ritmo, fazendo parte de uma programação que vai durar os seis dias de folia. Para além disso, artistas como Alceu Valença e Elba Ramalho – grandes ícones do Carnaval – sempre incrementam seus shows com a sanfona e promovem a união do frevo com o forró.
Para o sanfoneiro e especialista em forró, Kelvin Diniz, o ritmo é eclético e combina com qualquer época do ano. “O forró é um gênero musical que engloba vários ritmos (xote, baião, forró [sim, esse termo é ritmo e gênero ao mesmo tempo], marchinha junina, etc.), então se você pensar na sonoridade do carnaval notará que a marchinha junina (ou arrasta-pé, como queira chamar) é muito similar ao axé e o frevo, sendo possível até misturar os ritmos em uma única música. Inclusive o maracatu, que é muito tocado nos carnavais de Recife e região, também se mistura muito bem com o baião e o forró”, comenta.
O frevo, que surgiu em Pernambuco no final do século XIX, é indispensável para cair na folia. Para Kelvin, é possível realizar essa “mistura nordestina” e deixar o Carnaval ainda mais plural. “O frevo é muito semelhante à marchinha junina, eles se misturam facilmente. Inclusive, faço muito isso em meus shows e também aproveito o axé. Tanto dá pra alternar o ritmo tocado pelos instrumentos dentro de uma mesma música quanto dá pra cantar músicas de arrasta-pé em frevo sem problema algum – como grandes sucessos de Luiz Gonzaga, que sempre são tocados em frevo nos carnavais. É uma mistura saudável de ritmos que, se olhar bem direitinho, chegam a ser parentes”, diz o especialista.
Kelvin reconhece que o forró perde força fora do período junino, mas se mostra otimista com a atemporalidade do gênero – que deve ganhar cada vez mais notoriedade em outros tipos de festejos pelo país. “Forró e São João são intimamente conectados, afinal, a música surgiu para esse evento. O festejo junino é cheio de significados religiosos e populares, especialmente a celebração das colheitas, e as músicas do gênero forrozeiro nasceram para alimentar essa festa – por isso há uma baixa em outros momentos do ano. Mas acredito que isso está sendo superado e, aos poucos, vamos ganhando mais espaços no calendário para além do mês de junho”, conclui.
O Carnaval começa oficialmente no Sábado de Zé Pereira, que, este ano, será no dia 1º de março – e vai até a Quarta-feira de Cinzas, no dia 5. A expectativa é que o Brasil seja, mais uma vez, tomado por muito frevo, samba, axé e, também, o bom e tradicional forró!
SOBRE KELVIN DINIZ Kelvin Diniz Gomes da Silva, conhecido artisticamente por Kelvin Diniz, é um baiano da cidade de Capim Grosso – mas musicalmente formado em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, local que lhe presenteou com suas principais referências no forró. Apaixonado pela música e pelo forró, o baiano já participou de vários eventos em diversos lugares do Brasil – carregando o legado de seus grandes ídolos como base para sua carreira. Assisão, o Rei do Forró; Luiz Gonzaga, o Rei do Baião; Sivuca; Jorge de Altinho e Trio Nordestino são algumas das referências que inspiram o sanfoneiro. Ele lançou recentemente o clipe oficial de “Meu Ex-amor”, xote romântico que desponta com uma das principais faixas de seu repertório e que está disponível no Youtube. O sanfoneiro também possui outras músicas importantes como “Abraço fraterno” e “Terminando e voltando”, disponíveis nas plataformas e sempre presentes nos shows pelo país. Kelvin foi finalista do tradicional Festival Internacional Roland de Acordeon em duas oportunidades, é professor de música e já gravou mais de dez CDs ao lado de grandes nomes como Alcymar Monteiro, Adelmário Coelho, Assisão, Petrúcio Amorim e Irah Caldeira. Em 2023, lançou o show “O Lado Geek do Forró”, com músicas da cultura pop, como filmes, séries, animes e games.
Messias Amorim
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