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Checadores rebatem Zuckerberg sobre revisão independente de conteúdo na Meta: ‘Fatos não são censura’

Aplicativos da Meta: Facebook, Instagram e Whatsapp — Foto: Roy Liu / Bloomberg

Nenhuma organização de checagem decide quais publicações serão derrubadas ou não pela Meta, dona do Instagram e Facebook. Os “checadores” profissionais, no entanto, vinham exercendo o importante papel de fornecer informações para auxiliar as plataformas da empresa a identificar conteúdos com erros ou mentiras deliberadas, afirmam.

— Era um programa que fornecia contexto e informações apuradas por profissionais a partir de um código de conduta transparente. Existe uma narrativa que vende a ideia de que a checagem de fatos motiva silenciamento e censura. Isso é falso — diz Tai Nalon, diretora-executiva do Aos Fatos, uma das organizações brasileiras que participam do programa da Meta.

Em uma guinada na forma como vinha lidando com combate à desinformação, Mark Zuckerberg anunciou na terça-feira a eliminação do programa de checagem independente de fatos adotado há quase uma década pela empresa. A medida, segundo ele, terá início nos Estados Unidos e será gradualmente expandida para outros países.

Em um vídeo de 5 minutos em que mostrou alinhamento com Donald Trump, o cofundador e CEO da Meta acusou as organizações de fact-checking de serem “politicamente tendenciosas” e de terem “destruído mais a confiança do que criado”.

‘Culpar checadores é uma decepção’

Para fazer parte da parceria com a Meta, as agências de checagem aderem ao código de princípios da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN), criada pelo Instituto Poynter, dos Estados Unidos. Os critérios para análise de conteúdo segue uma série de procedimentos para tentar eliminar ao máximo o risco de viés. Em uma publicação no X, Neil Brown, presidente do Poynter, rebateu o dono da big tech:

— Os checadores de fatos ofereciam uma revisão independente das postagens, usando as ferramentas e regras da Meta, e apresentavam as fontes. Depois, cabia à Meta decidir o que fazer. Culpar os checadores de fatos é uma decepção e perpetua um mal-entendido sobre o próprio programa. Os fatos não são censura — afirmou Brown, acrescentando que a Meta “sempre teve o controle” do que era derrubado.

Rescisão de contratos

Nos Estados Unidos, onde a Meta trabalhava com dez organizações, os checadores começaram já na terça-feira a receber o aviso de rescisão de seus contratos com a big tech, segundo apuração do New York Times. A empresa não informou quando irá expandir a decisão para outros mercados, incluindo o Brasil.

Entre as organizações que fazem parte da rede da Meta estão agências de notícias internacionais, como AFP e Reuters, e também organizações locais independentes, em países como Macedônia, Burkina Faso, Burundi e Omã.

Primeira agência a integrar o Programa de Verificação de Fatos de Terceiros da Meta (3PFC) no Brasil, a Lupa também rebateu, em nota, as declarações do executivo. “Os checadores não têm lado, não praticam qualquer tipo de censura nem são os responsáveis pela diminuição da confiança do público no conteúdo que circula pelas plataformas”, afirma a organização brasileira.

A Lupa acrescenta que a decisão da empresa de substituir fact-checking profissional por classificações feita por usuários, chamadas de Notas da Comunidade,  é ineficaz. O modelo é o mesmo adotado pelo X, de Elon Musk.

‘Retrocesso’ e ‘duro golpe’

Para a Associação de Jornalismo Digital (Ajor), o posicionamento da Meta representa “um retrocesso na construção de um ecossistema informacional seguro e responsável”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) destacou que o trabalho de agências e checadores é feito de forma “criteriosa” e defendeu que a ação voluntária de usuários das redes “não é capaz de substituir a checagem profissional”.

Uma das preocupações das organizações é em relação ao financiamento feito pela Meta, que contribuía com receitas significativas para agências independentes.

Em nota enviada ao GLOBO, a AFP, uma das maiores agências de notícias do mundo, afirmou que a decisão da Meta, classificada como um “duro golpe”; surpreendeu a equipe.

“Ficamos sabendo da notícia como todos hoje. É um duro golpe para a comunidade de verificação de fatos e para o jornalismo. Estamos avaliando a situação”, declarou.

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