
Semana passada, fui surpreendida (mais uma vez) pela notícia de que algumas mulheres descobriram um novo método (mais uma vez) para emagrecer comendo de tudo: ingerir cápsulas com ovos de parasitas, comprados na dark web. Talvez movidas pelos comentários dos nossos avós: “Magro assim, come tanto e não engorda? Só pode ter verme!”
O estranho desse fato é que, na coluna passada, um pseudo-profissional vendia um suposto protocolo de desparasitação para curar o diabetes e, há pouco tempo, escrevi sobre esse mesmo protocolo que prometia o quê? Isso mesmo: o emagrecimento! Agora estamos em um dilema: parasitas emagrecem ou engordam? Parasitamos ou desparasitamos? Eis a questão.
Brincadeiras à parte, porque saúde é assunto sério, me parece um pouco de insanidade alguém comprar ovos de parasitas, ingeri-los, aguardar que eles se desenvolvam e consumam todos os nutrientes, consequentemente causando emagrecimento.
Os parasitas são organismos que vivem à custa de um hospedeiro, obtendo nutrientes diretamente dele, o que pode gerar diversos problemas de saúde, incluindo deficiências nutricionais. Entre os parasitas mais comuns que afetam humanos estão os helmintos (como lombrigas e tênias) e protozoários (como Giardia e Entamoeba histolytica). A infecção por parasitas é uma questão relevante de saúde pública, principalmente em países com condições sanitárias inadequadas.
As infecções parasitárias podem impactar a nutrição de várias maneiras. Muitos parasitas intestinais danificam o revestimento do intestino, dificultando a absorção adequada de nutrientes, como vitaminas e minerais essenciais. A Giardia lamblia, por exemplo, está associada à má absorção de gorduras, vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e carboidratos. A presença de parasitas pode causar sintomas como náuseas, dores abdominais e diarreia, o que pode levar à perda de apetite e consequente desnutrição, especialmente em crianças, que são mais vulneráveis. Alguns vermes podem provocar a perda crônica de sangue ao se fixarem na parede intestinal, resultando em anemia ferropriva (falta de ferro) em seus hospedeiros. A falta de ferro é uma das consequências nutricionais mais graves de infecções parasitárias.
Parasitas como a tênia, também conhecida como solitária, competem diretamente com o hospedeiro (nós) pelos nutrientes, absorvendo uma parte significativa das calorias e proteínas ingeridas pela pessoa infectada, levando à perda de peso e deficiências nutricionais. Essa é a razão pela qual estão encapsulando os ovos e comercializando-os para fins estéticos.
A má nutrição causada por parasitas compromete o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a outras infecções. Além disso, a desnutrição pode agravar a própria infestação parasitária, criando um ciclo de deterioração da saúde.
Além da própria teníase, a tênia pode causar uma doença extremamente grave: a neurocisticercose. Uma tia minha, já falecida, adquiriu essa doença quando trabalhava em um frigorífico e tinha acesso fácil à carne de porco, e, há cerca de 50, 60 anos, tinha-se o hábito de consumir a carne malpassada. Lembro-me de que ela tomava remédios controlados e fazia exames rotineiros para acompanhar a doença.
A cisticercose ocorre quando os ovos da Taenia solium são ingeridos por meio de água ou alimentos contaminados. Os ovos eclodem no intestino e liberam larvas, que podem migrar para diferentes tecidos do corpo, formando cistos. Esses cistos (chamados de cisticercos) podem se alojar nos músculos, olhos, pele e, mais perigosamente, no cérebro, causando neurocisticercose, que afeta o sistema nervoso central. Os sintomas podem variar e incluem convulsões, problemas neurológicos, hidrocefalia e alterações comportamentais. A sorte da minha tia foi que os cistos se alojaram em locais sem causar comprometimento, e calcificaram, impedindo a evolução da doença.
Será que vermes estão na moda? Aguardo o dia em que será a vez da alimentação balanceada, saudável e da atividade física.