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Caso Joaquim: depoimentos inéditos mostram detalhes do crime que começa a ser julgado nesta segunda-feira (16)

Começa nesta segunda-feira (16) o julgamento do Caso Joaquim. O menino, então com 3 anos, foi assassinado em 2013, em Ribeirão Preto (SP). O padrasto e a mãe são os acusados e vão estar frente a frente no banco dos réus. Os repórteres Valmir Salaro e Evandro Siqueira acompanham o caso desde o começo, há 10 anos, e mostram um material exclusivo do interrogatório de Natália Ponte e Guilherme Longo à Justiça. O padrasto de Joaquim confessa que era viciado em cocaína e que, no último mês e meio de relacionamento o uso era constante. Em outro trecho, ele admite que era agressivo com a mulher.

“Agarrei ela com força nos braços. Ficou marcado minhas mãos nela. Ameacei de morte umas três ou quatro vezes”, disse em depoimento.

Os interrogatórios ocorreram em 2015 e o material nunca havia sido publicado. A acusação que pesa contra Natália e Guilherme é o assassinato brutal de Joaquim em 2013.

A acusação afirma que o padrasto aplicou uma dosagem excessiva de insulina em Joaquim, que era diabético. Isso teria provocado a morte do menino. Em seguida, segundo a Procuradoria, Guilherme jogou o corpo em um córrego perto da casa da família.

Longo diz que não matou o enteado e que colocou Joaquim para dormir antes de sair de casa. “Eu tinha ido na biqueira para comprar droga”.

O padrasto alega que não encontrou o traficante, voltou para casa e dormiu. Ele afirma que Natália já estava dormindo nessa hora.

“(Joaquim) desapareceu de casa. Quando percebi, era no outro dia de manhã”, contou ele no depoimento.

Prisão e fuga

Guilherme Longo ficou preso dois anos e três meses, quando passou a responder em liberdade. Foi quando fugiu para Barcelona, na Espanha.

Em abril de 2017, o produtor do Fantástico Evandro Siqueira o localizou e avisou a Interpol. Foram sete meses foragido, sob nome falso, até voltar para o Brasil e ser preso novamente em Tremembé, no interior de São Paulo.

Natália, a mãe de Joaquim, ficou cerca de um mês presa e passou a responder em liberdade. São 10 anos solta, aguardando o júri popular, onde ela também é acusada de assassinato.

O que pesa contra ela é a omissão, por não ter protegido o filho. “Ela tinha o dever de garantir a integridade física e psíquica da criança. E não o fez”, diz o promotor Túlio Alves Nicolino.

Joaquim morreu em 2013. Júri começa na segunda-feira (16). — Foto: TV Globo/Reprodução.

Relacionamento conturbado

Natália é psicóloga e conheceu Guilherme na clínica de reabilitação onde ele foi internado no começo de 2013. Logo começaram um romance e passaram a morar juntos.

“Ele era muito ligado no Joaquim e eu acredito que ele possa ter ficado deprimido e voltado a usar”, diz ela no depoimento. Segundo Natália, Guilherme voltou a usar drogas quando o menino foi diagnosticado com diabetes.

Para a polícia, na época do crime, Natália disse que Guilherme já a tinha ameaçado de morte e agredido. Além disso, ela disse que ele a forçava a manter relação sexual.

No depoimento à Justiça, no entanto, a versão foi outra. “Ele vinha me provocar, forçava, mas eu falava: ‘Não, não quero’. E não tinha”, disse.

Para a acusação, um dos motivos do crime foi ciúme. Guilherme diz que logo depois da descoberta da diabetes do enteado, não gostava que Arthur, pai de Joaquim, ficasse ligando para Natália.

Foi nessa época que o padrasto de Joaquim conta que passou a consumir muita cocaína, chegando a usar três dias seguidos. Tanto que um dia antes do assassinato ele foi internado após tentar suicídio tomando remédios.

Ele saiu do hospital, voltou para casa e Joaquim desapareceu.

“Ele foi o executor do crime. Ele está sendo responsabilizado por isso. E ela por não ter impedido que ele fizesse isso”, argumenta o promotor.

Atualmente, Natália e Guilherme têm 38 anos e estão separados. Ela se casou outra vez e teve gêmeos.

Por causa dos bebês, a defesa pediu um Habeas Corpus preventivo para que ela não seja presa, caso condenada. A Justiça Negou.

Julgamento

Segundo o advogado de Natália, Nathan Castelo Branco de Carvalho, sua cliente deve fazer uma revelação no julgamento. “Ela entende que o Guilherme matou o Joaquim e deve esperar uma condenação que, enfim, o responsabilize por esse evento tão danoso na vida dela e de toda a família”, diz.

O defensor confirma que ela sofreu violência doméstica e nega a omissão. “Diante do comportamento do Guilherme com Joaquim, que era uma boa relação, não havia como a Natália prever que ele poderia fazer isso. Não é possível falar em omissão”, completa.

Já o advogado de Guilherme, Antônio Carlos Oliveira, diz que seu cliente vai manter a alegação de inocência. “Ele nunca sequer confessa ter praticado qualquer tipo de agressão que pudesse maltratar o menino, muito pelo contrário. Ele ratifica em todas as suas falas que é inocente da imputação que é feita pelo Ministério Público”.

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