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PF afirma que empresário acionou ACM Neto para conseguir pagamentos de prefeitura

Foto: Jorge Jesus/bahia.ba

A investigação da Polícia Federal sobre um esquema de corrupção organizado por um grupo de empresários da Bahia aponta indícios de que um deles, Marcos Moura, usou sua influência junto ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) para liberar pagamentos da prefeitura ao grupo.
As informações foram antecipadas pelo jornal O Globo e confirmadas pelo UOL.

De acordo com a publicação, os contratos do grupo com a Prefeitura de Salvador estão sob investigação da PF, por suspeitas de fraude em licitação e superfaturamento. A Operação Overclean apura fraude em licitação do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs ) e em outras prefeituras pelo mesmo grupo de empresários, liderado por Marcos Moura e Alex Parente.

O ex-prefeito não foi alvo de nenhuma medida da PF na operação e não é investigado no inquérito, mas é citado dentro da investigação, obtida pelo UOL.
“Em decorrências dos contratos firmados pela empresa Larclean com o município, segundo o portal da transparência, a ORCRIM (organização criminosa) recebeu R$ 67.121.847,99 da Prefeitura de Salvador/BA, por meio da empresa Larclean. Conforme registrado na IPJ 3517658/2024, a licitação foi sistematicamente fraudada e os pagamentos superfaturados”, escreveu a PF no pedido de prisão dos empresários.

Ainda segundo o site, Marcos Moura é filiado ao União Brasil e integra os órgãos de cúpula do partido. Preso na semana passada, ele é próximo de ACM Neto e tem uma sociedade com a irmã do ex-prefeito na posse de uma aeronave.

Conhecido como “rei do Lixo”, Marcos Moura tem empresas na área de limpeza urbana, com contratos em diversas prefeituras da Bahia, incluindo Salvador. Em 2018, quando ACM Neto ainda era prefeito, o consórcio Ecosal, do qual a empresa de Moura faz parte, fechou um contrato de R$ 427 milhões com a prefeitura para administrar a limpeza urbana da capital baiana por dois anos. O contrato foi renovado e está em vigor atualmente.

Mas as suspeitas apontadas pela PF envolvem os contratos de outra empresa, a Larclean, com a Secretaria de Educação do município. Moura não é sócio da Larclean, mas trabalha em conjunto com o dono da empresa, Alex Parente, de acordo com as investigações.

Em diálogos do empresário Alex Parente, acusado de integrar a mesma organização criminosa de Moura, ele discute dificuldades para a liberação de pagamentos de um contrato com a Secretaria de Educação de Salvador. De acordo com a PF, o grupo cita que o ex-prefeito ajudou a resolver esse tipo de problema em uma ocasião e poderia ser acionado novamente, mesmo não ocupando cargo público. O atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), é afilhado político de ACM Neto.

“Ficou evidente que esta não era a primeira vez que Alex teria recorrido a Marcos Moura, a fim de intervenção junto ao Secretário, inclusive, afirmando que em outra oportunidade Marcos Moura teria ido diretamente ao zero um antigo, ou seja, o antigo prefeito da cidade de Salvador/BA, Antônio Carlos Magalhães Neto – ACM Neto. Marcos Moura e o ex-prefeito são amigos de longas datas, amizade essa amplamente divulgada em matérias jornalísticas”, apontou a PF, no pedido de prisão dos empresários.

No diálogo interceptado pela PF e transcrito, Alex Parente afirmou: “Se lembra daquela outra vez? Foi Marco que. Foi Marco que resolveu, entendeu? Falou com o zero um antigo. O zero um antigo falou e resolveu”.

Ao tratar da liberação dos pagamentos, Marcos Moura acionou diretamente o secretário de Educação de Salvador, Thiago Dantas. Alex Parente afirmou, no diálogo interceptado: “Aí Marco ligou pra ele na minha frente: ‘rapaz, tem um assunto de um amigo, é de um amigo meu, vê se você libera aí”.
Em outra conversa, o próprio Marcos Moura diz a Alex Parente que acionaria o “amigo” caso o secretário não resolvesse a questão. O diálogo também foi interceptado e transcrito: “Deixa ver aí se ele consegue solucionar. Se ele não conseguir, eu falo com meu amigo”.

“Sugere-se, mais uma vez, que o ‘amigo’ citado por Marcos Moura, o qual seria capaz de resolver a situação do pagamento para a Larclean, no caso do insucesso de Thiago, seja Antônio Carlos Magalhães Neto”, apontou a PF.

O relatório também cita que não foram encontrados elementos suficientes que indicassem um envolvimento do secretário de Educação com a organização criminosa, por isso ele não foi alvo de medidas na operação deflagrada na semana passada.

Outro lado

Procurada, a assessoria de ACM Neto afirmou que as citações ao seu nome são “inferências” e que não estão relacionadas a qualquer ato ilícito.

“Os autos, tornados públicos pela Polícia Federal, evidenciam que não há registro de qualquer diálogo de ACM Neto no âmbito das investigações, nem mesmo citação direta ao seu nome. Existem apenas inferências, que, ainda assim, não estão relacionadas a qualquer ato ilícito”, disse a assessoria, em nota.

Em uma confraternização do União Brasil na semana passada, ACM Neto foi abordado por jornalistas sobre sua relação com o empresário e admitiu ser “amigo” de Marcos Moura, mas não quis comentar os detalhes da investigação.

Em nota, a Prefeitura de Salvador disse que o secretário Thiago Dantas determinou a instauração de uma sindicância administrativa para apurar os fatos relacionados à Operação Overclean. “Pela ausência de qualquer sinal de envolvimento nos fatos apurados, o titular da Smed (Dantas) não foi alvo de nenhum dos mandados judiciais, cumpridos na última semana.”

“No mesmo dia em que foi deflagrada a operação, o servidor Flávio Pimenta foi exonerado pela Prefeitura de Salvador do cargo que ocupava na Secretaria de Educação”, afirmou o município.

Bahia.ba

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