
Faz quase três meses que o Grupo Fleury causou furor ao lançar o primeiro exame de sangue capaz de diagnosticar a doença de Alzheimer em seus estágios iniciais. O PrecivityAD2, que foi desenvolvido pela C2N Diagnostics, uma startup com origens na faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, nos Estados Unidos, é realizado a partir de uma simples amostra de sangue.
O Fleury tinha uma expectativa de realizar de 15 a 20 exames por mês, mas foi surpreendido pela demanda: nos primeiros 30 dias, realizou 35 e, no segundo, 45. Dentre os pacientes, todos com mais de 55 anos, cerca de um terço recebeu o diagnóstico positivo. O neurologista Aurélio Pimenta Dutra, 48 anos, do Fleury Medicina e Saúde, acredita que a facilidade de realização, comparado a outros procedimentos mais complexos e invasivos, é a explicação para a alta demanda.
Para quem não viu ou não se lembra, uma breve explicação sobre este exame. Pessoas munidas de um pedido médico, portanto com uma suspeita clínica de estar com a doença, sem agendamento prévio, podem ir a algumas unidades do Fleury, tirar o sangue e, 20 dias depois, vão receber o resultado. A amostra é pré-processada no Brasil em até duas horas após a coleta e, depois, enviada aos Estados Unidos para análise.
O exame detecta proteínas que indicam a presença ou ausência de placas amiloides cerebrais, uma característica patológica da doença de Alzheimer. O custo é de R$ 3,6 mil, ainda sem cobertura pelos planos de saúde. “O Fleury está trabalhando para internalizar a análise, fazer tudo aqui. Quando isso acontecer, o PrecivityAD2 pode entrar no rol da Agência Nacional de Saúde e, eventualmente, ser pago pelos planos de saúde”, diz o neurologista. Ele estima que esse processo vai demorar cerca de dois anos.
O PrecivityAD2 tem uma acurácia de 90%, mas não elimina outros exames existentes no Brasil, como a Avaliação do Líquido Cefalorraquidiano (LCR), que consiste numa punção lombar do líquido cefalorraquidiano, e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET Scan), para avaliar o metabolismo cerebral e identificar a presença de placas de proteína beta-amiloide, que são características da doença de Alzheimer. O médico explica que é muito comum que o Alzheimer aconteça concomitantemente a outras doenças cerebrovasculares. Por isso, um diagnóstico pelo PrecivityAD2 não exclui patologias que podem ser detectadas por outros exames.
Embora seja uma demência cuja causa ainda é pesquisada pela ciência, o Alzheimer é uma doença relacionada ao envelhecimento. O Ministério da Saúde estima em 1,2 milhão de doentes no Brasil, a imensa maioria com mais de 60 anos (os raros casos abaixo desta idade estão relacionados a fatores genéticos). De cada 10 nonagenários, quatro sofrerão com seus sintomas, que vão desde a perda da memória (esquecer compromissos, repetir comentários), de atenção (se distrair facilmente), de linguagem (não encontrar as palavras) até a mudanças bruscas no comportamento social. Uma vez instalada, o Alzheimer não tem cura. A vantagem do diagnóstico precoce é a adoção o mais cedo possível de tratamentos que podem retardar sua progressão.
















