
Um abraço entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), ou um passeio do bilionário Elon Musk em São Paulo com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Registros ultrarrealistas de cenas inusitadas e que jamais aconteceram, criados por meio da ferramenta de inteligência artificial Grok, inundaram as plataformas digitais e rapidamente foram incorporados ao debate político brasileiro nas últimas semanas. Os conteúdos têm sido usados tanto de forma bem humorada, em situações nas quais fica evidente a fabricação por IA, quanto para desinformar, o que reforçou o debate sobre os riscos associados à tecnologia.
O chatbot vinculado ao X, que funciona de forma semelhante ao ChatGPT, da OpenAI, teve uma versão gratuita liberada para os usuários da rede no início do mês. As imagens têm tido alta adesão e engajamento. Um relatório da consultoria Bites, feito a pedido do GLOBO, apontou 21 mil tuítes com imagens produzidas pela ferramenta Grok publicadas entre os dias 1 e 16 de dezembro. Ao todo, os conteúdos geraram 1,47 milhão de interações e 63,8 milhões de visualizações no período.

O pico ocorreu no dia 11 de dezembro (8,1 mil tuítes), dia seguinte à cirurgia de Lula para drenar uma hemorragia interna em decorrência de uma queda que sofreu no banheiro do Palácio do Alvorada em outubro. Nas redes, as principais imagens que viralizaram sobre o tratamento do presidente mostravam Lula com a cabeça enfaixada e com visitantes inusitados no Hospital Sírio-Libanês, onde ficou internado, como o apresentador Faustão e Bolsonaro.
A imagem de Lula com a cabeça enfaixada gerou confusão ao circular como se fosse registro verdadeiro do presidente durante a internação. O uso de IA precisou ser indicado por agências de checagem, como o Fato ou Fake, serviço do Grupo Globo.
A repercussão foi alavancada por um perfil conservador que usou a imagem para criticar o governo federal e insinuar que a saúde de Lula estaria mais frágil do que era divulgado oficialmente por sua gestão. A postagem teve 981 mil visualizações.

A imagem que surgiu em meio a teorias conspiratórias para atacar o governo Lula acabou compartilhada pela própria base. O deputado federal Rubens Otoni (PT-GO) chegou a publicá-la junto a um voto de melhoras ao presidente: “Bom dia, com muita saúde, presidente Lula”. Posteriormente, ao perceber que a imagem era falsa, apagou.
— Em alguns conteúdos, fica evidente que se trata de montagem, com uso de humor e sátira. Mas outros podem facilmente levar os usuários a crer que se trata de um fato verídico. Vale lembrar que o apelo imagético é um facilitador para o compartilhamento — aponta Letícia Capone, do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio.















