Segundo o psiquiatra Jean-Luc Martinot, pesquisador do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França), as ruminações são um fenômeno subjetivo, vivenciado pela maior parte das pessoas e “difícil” de ser estudado. Mas algumas características desses pensamentos repetitivos já puderam ser estabelecidas pelos cientistas, como mostra um recente estudo dirigido pelo psiquiatra francês e publicado na revista científica Molecular Psychiatry.
Um dos objetivos dessa pesquisa era identificar sinais no cérebro de jovens adultos entre 18 e 22 anos de que essas ruminações poderiam desencadear doenças mentais no futuro. A equipe focou nessa faixa etária porque esses pensamentos “invasivos”, explica o psiquiatra francês, surgem principalmente na passagem da adolescência para a fase adulta.
“As ruminações são algo frequente e não são uma característica da infância ou do início da adolescência”, explica o psiquiatra francês. “É um fenômeno da vida mental que pode até existir antes, mas que se torna mais frequente quando os jovens viram adultos”, completa.
Um dos objetivos dessa pesquisa era identificar sinais no cérebro de jovens adultos entre 18 e 22 anos de que essas ruminações poderiam desencadear doenças mentais no futuro. — Foto: Pexels
Descrição do estudo
Durante a pesquisa, os cientistas franceses analisaram os dados de centenas de jovens europeus que responderam, durante vários anos, a questionários online sobre esses pensamentos frequentes, que causam desconforto e ansiedade. Periodicamente, eles eram submetidos a exames de ressonância magnética para detectar se havia mudanças na atividade cerebral quando os pensamentos repetitivos surgiam espontaneamente.
Os pesquisadores então identificaram, no grupo de 600 jovens acompanhados pela equipe, aqueles que descreveram ruminações depressivas. Eles foram submetidos a uma ressonância magnética “livre”, que mede a atividade cerebral sem instruções dadas pela equipe médica. “O estado mental dos pacientes que tinham tendência às ruminações foi naturalmente captado pelo aparelho”, explica.
O registro foi possível graças a um algoritmo que permite diferenciar a maneira como a atividade mental evolui no cérebro e conecta ao mesmo tempo diferentes regiões. “Por exemplo, durante as ruminações ‘preocupantes’, percebemos que havia regiões frontais que variavam ao mesmo tempo que algumas áreas dos gânglios da base, ou seja, áreas envolvidas na gestão das emoções”.
Ruminações são divididas em três tipos
A equipe do psiquiatra francês dividiu os pensamentos repetitivos em três tipos. As chamadas ruminações reflexivas têm uma conotação positiva e consistem na busca da solução para um problema. Os outros dois tipos estão relacionados às emoções negativas e às preocupações cotidianas, ou podem estar associadas à depressão. “A ruminação depressiva, pode, se persistir, pode ser primeiro sinal de um problema psiquiátrico mais grave”, diz o psiquiatra.
Os pacientes que apresentavam ruminações negativas aos 18 anos tinham uma tendência maior ao desenvolvimento de sintomas de ansiedade e depressão, às vezes graves, quatro anos depois. A gravidade dos sintomas estava relacionada às modificações nas configurações cerebrais medidas durante as ressonâncias magnéticas.
“Certos tipos de ruminações, como as relacionadas às preocupações, ou depressivas, anunciam o surgimento de sintomas internos, ou seja, de ansiedade ou depressão, ou externos, como agressividade, uso de drogas ou dependência química”.
Isso pode ajudar a prevenir doenças mentais em jovens adultos com fatores de risco – e este é um dos interesses concreto do estudo.
Segundo o psiquiatra, a gestão das emoções, certas características de personalidade, o padrão de sono, a existência de traumatismos e a puberdade precoce influenciam no surgimento de doenças psiquiátricas e podem prevenir seu aparecimento.