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Como Trump vai lidar com as guerras que envolvem os EUA

Benjamin Netanyahu e Donald Trump se encontram antes de assinar os Acordos de Abraão, em Washington, em foto tirada em 15 de setembro de 2020 — Foto: Tom Brenner/Reuters

A milhares de quilômetros de distância dos EUA, os ucranianos não tiveram direito a voto nas eleições, mas a escolha de Donald Trump para comandar o país tem potencial para afetar mais a vida deles do que a de muitos cidadãos americanos.

Isso porque, em guerra contra a Rússia, a Ucrânia depende imensamente dos armamentos enviados para Washington para impedir que Moscou invada e anexe uma parte de seu território.

Além do conflito na Europa, os EUA também estão indiretamente envolvidos na guerra de Israel contra o Hamas e o Hezbollah, em Gaza e no Líbano – também fornecendo armamentos e apoio para o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Até o momento, o presidente democrata Joe Biden declara abertamente apoio a Kiev contra o assédio de Vladimir Putin. Ao mesmo tempo, mesmo contra parte de sua própria base eleitoral, seu governo defende as ações de Israel com o argumento de que o país tem o direito de se defender de agressões, como o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023.

Guerra da Ucrânia

Área residencial em chamas na Ucrânia após ataque russo — Foto: REUTERS/Vitalii Hnidyi

Área residencial em chamas na Ucrânia após ataque russo — Foto: REUTERS/Vitalii Hnidyi

Em seus discursos de campanha, Trump dizia que podia costurar um acordo de paz “animador” entre Rússia e Ucrânia em 24 horas, sem dar mais detalhes de como .

Em uma entrevista antes da eleição, porém, seu vice, J.D. Vance, afirmou que a negociação provavelmente envolver a entrega de regiões controladas por Moscou, o que é visto pelas potências ocidentais como uma derrota para a Ucrânia e uma vitória de Vladimir Putin.

Além disso, Vance também mencionou um possível veto à entrada da Ucrânia na Otan, a aliança militar do Ocidente, o que é uma demanda do Kremlin.

Enquanto permaneceu na Presidência, Trump se gabou de ter mantido uma boa relação com Putin, entre outros autocratas.

Além disso, um dos motivos para o desgosto de muitos eleitores americanos com a gestão Biden é a percepção de que muito dinheiro de impostos está sendo direcionado para guerras que não envolvem os EUA, ao invés de se reverter em ajuda à população.

Em abril, o Congresso americano aprovou um pacote de ajuda de US$ 61 bilhões à Ucrânia, e outras quantias foram liberadas na sequência – a última delas, em outubro, ocorreu após uma conversa por telefone entre Biden e Volodymyr Zelensky, que resultou em um cheque de US$ 425 milhões (cerca de R$ 2,4 bilhões).

Trump se aproveitou desse sentimento para angariar eleitores, e a visão de que os EUA estão gastando demais com a Ucrânia é compartilhada por outras vozes proeminentes no Partido Republicano. Seu regresso à Casa Branca tem sido um motivo, portanto, para deixar Zelensky e os ucranianos preocupados.

Em Moscou, porém, as reações com sua vitória eleitoral são mais comedidas. “Não vamos esquecer que estamos falando sobre um país não amigável”, disse na quarta-feira (6) o porta-voz do governo, Dmitry Peskov. Ele afirmou que o Kremlin está monitorando e analisando a situação dos EUA e que vai tirar conclusões com base em “palavras específicas e ações concretas”.

Na quinta-feira, Putin falou pela primeira vez sobre o tema. Ele parabenizou Trump pela vitória e disse estar pronto para restabelecer relações com Washington. Zelensky também deu os parabéns ao republicano.

Israel

Enquanto há hesitação em fazer previsões para o front ucraniano, analistas internacionais falam com mais segurança em uma continuidade do apoio americano à campanha de Israel em Gaza e no Líbano contra o Hamas e o Hezbollah, respectivamente.

Logo após eleito, Trump nomeou Brian Hook, seu antigo enviado para o Irã, para coordenar a transição com o corpo diplomático. Hook fez a mediação de conversas secretas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, segundo uma reportagem do “The New York Times” de 2019, e participou da construção dos Acordos de Abraão, em 2020 – uma série de acordos de normalização de relações entre Tel Aviv e países árabes, mas que não exigiam de Israel o compromisso com a criação de um estado palestino, o que foi considerado uma traição pelos palestinos.

Trump também escolheu para sua equipe de transição o bilionário do setor financeiro Howard Lutnick, que afirmou ter aceitado o posto por acreditar que Israel estará mais seguro com o republicano no poder.

Também houve sinalizações para o lado oposto. Para se contrapor à posição de Kamala Harris, Trump fez um comício em Michigan, estado com grandes comunidades árabes e muçulmanas, ao lado de líderes religiosos.

O republicano se colocou como o candidato que traria paz para a região se eleito, embora tenha sido vago sobre seu plano de acordo entre as partes. Ele se beneficiou, de qualquer forma, com a rejeição do eleitorado árabe ao apoio incondicional de Biden e Harris a Israel.

Pessoas trabalham para recuperar os corpos de palestinos no local de ataques israelenses, em meio ao conflito Israel-Hamas, em Beit Lahiya — Foto: REUTERS/Stringer

Pessoas trabalham para recuperar os corpos de palestinos no local de ataques israelenses, em meio ao conflito Israel-Hamas, em Beit Lahiya — Foto: REUTERS/Stringer

Em um evento de campanha pró-Trump, porém, o ex-advogado de Trump Rudolph Giuliani disse que “temos que estar ao lado de Israel porque eles estão do nosso lado”, em relação ao conflito no Oriente Médio.

Trump quase sempre agiu como aliado de Israel e do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Além dos Acordos de Abraão, foi em seu governo que os EUA reconheceram Jerusalém como capital do país, uma posição controversa, já que os palestinos veem a cidade como central para seu futuro estado.

Em julho, Netanyahu se encontrou com Trump em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida. Na reunião, o então candidato expressou apoio à campanha contra o Hamas. No mês anterior, em debate com Biden, o republicano chamou seu então rival de “palestino” de forma pejorativa.

Na terça-feira (5), dia da eleição americana, Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, tido como uma figura próxima ao governo Biden. A decisão pode ser vista como um aceno ao futuro ocupante da Casa Branca.

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