“Ele falou que não suporta pessoas de candomblé, que eu estava com o demônio no corpo e que quando eu fosse arrebatada, teria que ir na Pentecostal”. Esse é o relato da estudante que foi alvo de intolerância religiosa dentro do metrô de Salvador na segunda-feira (15).
Segundo a jovem, que prefere não revelar a identidade por medo, ela foi criticada por usar um colar de contas do candomblé.
A estudante estava sentada em uma das poltronas do metrô quando começou a ouvir gritos intolerantes feito pelo suspeito.
“Ele começou a gritar, falava que não suporta pessoas de candomblé e que precisariam morrer. Ele acha que são todos endemoniados, que buscam uma verdade que não existe”, contou a estudante.
A estudante decidiu levantar e olhar para o homem, que passou a encará-la e proferir insultos direto para ela. “Fui para a frente dele, tirei o fio de contas de dentro da minha roupa e fiquei encarando ele. Ele me encarou de volta e começou a falar: ‘Você saiu de onde você estava para vir aqui me infernizar'”, relatou.
A estudante afirmou que perguntou ao homem se ele já tinha visto ela no metrô, já que era a única com colar de contas no pescoço. O suspeito teria dito que as falas dele se tratavam de liberdade de expressão.
“Eu disse que intolerância religiosa não é liberdade para ele ter ódio no coração. É para você se expressar de acordo com a lei”, pontuou a jovem.
A resposta, conforme a jovem, fez com que o homem ficasse ainda mais irritado. Ele se levantou e começou a gritar que queria que pessoas adeptas ao candomblé morressem.
“A lateral da boca dele espumava de tanto ódio e as pessoas em volta ficaram em silêncio. Comecei a me afastar porque fiquei com medo dele vir para cima de mim e me bater”.
Parte da discussão foi gravada pela jovem. O vídeo foi feito após ela ser orientada por uma idosa que estava no metrô. Na imagem, é possível ver o momento que o homem grita: “Você está indo para o caminho das trevas. Se você acredita que o caminho que você está seguindo é bom, se jogue de cabeça”.
A confusão só terminou quando a estudante deixou o local e o homem continuou no vagão.
“Quando saí do metrô, uma moça me abraçou e me acompanhou até os seguranças. Um deles me falou que tinha um segurança esperando ele na próxima estação, mas ficou por isso mesmo. Não fizeram nada”, relatou.
Estudante estava com um colar de contas — Foto: Reprodução/TV Bahia
Em nota, a CCR Metrô, empresa que administra o transporte, afirmou que a segurança não foi acionada e que repudia qualquer prática de intolerância e desrespeito. A concessionária disse ainda que a equipe de agentes está disponível para prestar atendimento e orienta que todo caso de intolerância ou agressão seja registrado para tomada das devidas providências.
Entidades se manifestaram
Confusão é registrada dentro de metrô na Bahia por causa de intolerância religiosa — Foto: Reprodução/TV Bahia
Após o vídeo da estudante viralizar nas redes sociais, entidades anti-intolerância religiosa repudiaram o caso e contaram que estão dando assistência à vítima. O advogado dela, Bruno Moura, afirmou que conseguiu a identificação do suspeito e que encaminhou dados dele para a polícia. Também em nota, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi) repudiou o caso de intolerância religiosa.
Conforme a Sepromi, a Rede de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa foi acionada e o advogado da mulher recebeu suporte por meio do Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela.
Ainda de acordo com a secretaria, representantes da Rede de Combate ao Racismo vão acompanhar a mulher nesta terça-feira (16) até a Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid), quando será feita a denúncia do crime.
A Associação de Terreiros da Bahia também repudiou o ato de intolerância religiosa e disse que é inaceitável que uma mulher tenha sido hostilizada simplesmente por expressar sua fé, utilizando um fio de conta associado à sua crença de matriz africana.
Confusão é registrada dentro de metrô na Bahia por causa de intolerância religiosa — Foto: Reprodução/TV Bahia