
A preocupação é com o uso excessivo de telas e como isso impacta no desempenho escolar e na saúde mental de crianças e adolescentes. No Fantástico, Drauzio Varella explica como pesquisadores tentam responderas perguntas sobre o tema e mostra o tamanho do desafio de mudar hábitos e promover o uso consciente das tecnologias.
Neste ano, uma pesquisa revelou uma disparada no número de crianças brasileiras com menos de seis anos que já se conectaram à internet. Quem conversou sobre este assunto foi o pediatra Daniel Becker, que tem acompanhado o movimento de perto.
“Essas crianças e adolescentes vão perder em habilidades, em capacidades, em relacionamento, em autoconhecimento. Ele acha que está num grupo de milhares de amigos pertencentes, mas aquilo é uma ilusão”, diz o especialista.
Os eletrônicos e a mente dos jovens
Na adolescência, uma parte importante do cérebro humano não está totalmente desenvolvida: o córtex pré-frontal, que é responsável pelo controle de impulsos, reação a ameaças e recompensas. Com isso, o uso excessivo de telas e redes sociais pode levar a situação para as quais o cérebro jovem ainda não está preparado.

Efeito do uso excessivo de telas eletrônicas no cérebro dos jovens. — Foto: TV Globo/Reprodução
Isso não significa que os dispositivos causarão problemas de saúde mental a todos os usuários, mas eles podem ser amplificados em quem já está mais vulnerável.
“Você pega, por exemplo, uma menina de 12 ou 13 anos, que começa a se interessar pela beleza. Ela vai começar a ver um vídeo de moda, maquiagem ou exercício. O algoritmo começa a radicalizar esse conteúdo rapidamente e, em pouco tempo, está recebendo vídeos que estimulam ela a fazer dietas de 400 calorias por dia”, alerta Daniel, apontando que esse tipo de conteúdo pode resultar em distorção da autoimagem e desenvolvimento de transtornos alimentares como anorexia ou bulimia.
O papel da família
Questionado por Drauzio como a família pode ajudar a coibir essa superexposição, o pediatra indica que a supervisão é o primeiro ponto.
A segunda coisa a ser feita, continua Daniel, é criar uma alternativa atraente no mundo real. “Criar um mundo bom do lado de fora do celular. Isso é uma tarefa essencial das famílias, mas não é fácil também. Oferecer um mundo bacana, que compita com esse celular que é tão bacana para eles.
O uso de telas na prática
Para ver se essas recomendações funcionam na prática, o pediatra acompanhou a família da Tatiara, do Marcos, do Caio e do Daniel, no Rio de Janeiro. Drauzio Varella se encontrou com Márcia, Cassius e Duda, em São Paulo.
A Maria Eduarda de Souza Santos, a Duda, conta que já checa o celular antes de ir para a escola para ver o que está acontecendo. “Enquanto vou me arrumando, ou até enquanto estou tomando café”, conta.

Pais tentam diminuir o tempo da filha na frente das telas. — Foto: TV Globo/Reprodução
Na volta da escola, ela se vê novamente imersa no conteúdo entregue pelo aparelho. A exposição, muitas vezes, avança pela madrugada.
“Tem dia que eu fico até seis da manhã”, diz ela, confessando que fica ansiosa quando não está com o celular na mão.
“No começo era mais para comunicação, aí depois virou um vício mesmo”, completa.
A Márcia, mãe da Duda, diz que sabe quando tudo começou e que o exemplo costuma vir de dentro de casa. “Mostramos para eles o que é o celular, o que é o computador”, conta.
🤝 Para amenizar essa exposição, Drauzio sugeriu uma redução do uso. “Não digo parar de usar. Acabou as tarefas, você passa duas horas por dia sem tocar no celular”, diz o médico para Duda, que aceita o trato.

Duda ao lado do irmão, João Victor. — Foto: TV Globo/Reprodução
Agora, a Duda, que antes usava o celular para distrair o irmão João Victor, agora usa livros. Os pais relatam que perceberam que ela está mais ativa, até fazendo caminhada.
“Ela teve um bom Progresso aí, adorei. Adorei mesmo”, contou a mãe, Márcia.
Desentendimento familiar
No Rio, Marcos fala sobre a rotina dos filhos com os meios eletrônicos. Caio, que estuda pela manhã, geralmente acaba indo para o computador depois da escola. “Se deixar, vai o dia todo, vira a noite no computador”, conta o pai.
Daniel não é diferente. “Ele só sai do celular quando está carregando”, diz a mãe, Tatiara.
“A gente janta junto, eu e meu marido. Daniel janta com o telefone em cima da mesa e o Caio no seu no computador. Ele leva o prato e janta no computador”, relata a mãe.

Refeições na frente do computador preocupam os pais. — Foto: TV Globo/Reprodução
Com cada um em sua tela, a falta de interação virou uma constante na família e, com o tempo, os conflitos começaram.
“Já teve muitas discussões com minha mãe por conta que ela mandava sair do jogo de noite e eu não saía, virava a noite”, relata Caio.
“Eles não são de falar palavrões assim no dia a dia, mas quando está no jogo, falam palavrões direto. Ele tentou agredir um pouco a gente, né? Foi assim uma coisa horrível”, fala Tatiara.
🤝 No caso da família Nogueira, Daniel Becker propões que todos negociem as regras. “Isso vai dar trabalho, desculpa informar. Eu vou sugerir algumas coisas para vocês: vocês não vão tirar ninguém, vão tirar a tela de vocês. Não adianta a gente reprimir, brigar, castigar ou gritar… Então, eu sugiro que vocês conversem, façam uma proposta. Chame as crianças e eles vão fazer as contrapropostas. É como se fosse uma negociação de paz”.

Família teve que conversar e criar novas regras para o convívio. — Foto: TV Globo/Reprodução
Após a sugestão do especialista, Tatiara conta que a primeira noite deixou as crianças irritadas sem a presença do celular. Aos pouco, ela conseguiu reunir os filhos para refeições sem celulares e os meninos redescobriram a piscina do quintal.
“Passava a madrugada jogando toda e ficava muito nervoso, acabava descontando meu irmão. Agora eu dou uma pausa de tarde, vou jogar alguma coisa, jogar uma bola, toma banho de piscina”, relata Caio.
No encontro para o balanço final, a família seguiu outra recomendação e saiu para um passeio ao ar livre.
Saúde mental em jogo
Situações como as relatadas acima devem geram um sinal de alerta nos pais e podem levar a crises de saúde mental e levar ao chamado “convívio precário”. Alguns dos sinais de alerta são:
- 😤irritação fácil;
- 😨ansiedade;
- 🥱privação do sono;
- 🚪 preferências por ficar no quarto;
- 🏃♀️ falta de interesse em atividades ao ar livre;
- 👭 queda de tempo ode interação presencial.

O convívio precário é uma das preocupações dos especialistas. — Foto: TV Globo/Reprodução
A solução para esse problema passa por dois pontos fundamentais: conversa e exemplo. Afinal, é preciso estabelecer regras razoáveis e os pais precisam segui-las.
“Pais, incentive os seus filhos a ficar menos tempo no celular. Agora nas férias, não é curtir um pouco mais a família e o lazer fora de casa no seu celular. Mesmo que seja de casa, mas deixa o celular de lado”, recomenda Márcia, mãe da Duda.
















