
O encontro entre caciques do Centrão e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), realizado nesta segunda-feira, em Brasília, teve momentos de tensão em função do anúncio feito dias antes por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que escolheu o filho primogênito para concorrer ao Palácio do Planalto em 2026. Contrariados por não terem sido avisados previamente da movimentação, os presidentes do União Brasil, Antônio de Rueda, e do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), questionaram a Flávio o motivo pelo qual não houve diálogo prévio e afirmaram que seguem tendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como nome favorito.
Pessoas que participaram do encontro relataram que Flávio foi questionado se queria “trazer para si” o ativo da direita e construir uma candidatura sem alianças. Ao contrário do que o senador afirmou na terça-feira, ao visitar o pai na Superintendência da Polícia Federal, estudos que mostram a viabilidade do seu nome não teriam sido apresentados às lideranças do Centrão.
Rueda e Ciro lembraram movimentações que representaram “renúncias” aos dois partidos em nome da parceria, como o desembarque do governo e a expulsão de membros que seguiram ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e disseram não enxergar viabilidade no projeto encabeçado por Flávio. Principal bandeira levantada pelos bolsonaristas no Congresso, a anistia das penas aos condenados pelos atos antidemocráticos foi sepultada no encontro.
Os dois dirigentes comunicaram a Flávio que não trabalhariam pelo projeto nos termos defendidos por Bolsonaro e que, caso ele quisesse, os partidos apoiariam, no máximo, a dosimetria das penas. A expressão usada teria sido “é dosimetria ou nada”.
Na terça, dia seguinte ao encontro, a Câmara aprovou o projeto de lei, que altera o cálculo de penas aplicadas a crimes contra o Estado Democrático de Direito. O líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse que Bolsonaro havia dito a Flávio, horas antes, “que aceitava passar o natal na cadeia, em nomes das pessoas que seguem presas injustamente”. A expectativa é que o projeto seja votado no Senado, ainda neste ano.
Procurado pelo GLOBO, Rueda deixa a aliança em torno de Flávio em aberto.
— Flávio tem legitimidade, mas ainda não temos nada fechado. Ele representa a direita, mas o partido segue tendo um nome colocado para a presidência, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado — disse.
Horas depois do encontro com Flávio, os dois presidentes de partido se reuniram com Marcos Pereira, que comanda o Republicanos. O presidente do partido de Tarcísio não foi à reunião da véspera por irritação com a decisão da família Bolsonaro, dizem aliados.
Ao final desta reunião, os três caciques do Centrão tiraram uma foto, que foi publicada nas redes sociais de Pereira. A intenção era mostrar alinhamento entre as três legendas. Registro semelhante não foi feito no encontro com Flávio.
Flávio insiste em candidatura
Apesar do clima tenso horas antes, Flávio reforçou no dia seguinte que Bolsonaro considera a sua entrada na disputa eleitoral “irreversível”. O senador confirmou que os dirigentes partidários colocaram dúvidas sobre a capacidade de “tração” da sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2026.
— Minha relação com Ciro, Rueda e outros nomes é muito boa. Eles se preocuparam com o meu nome, com base em pesquisas, de eu não tracionar. Meu nome está tracionado. Reforcei a eles que minha candidatura é irreversível e ouvi a mesma mensagem do meu pai, Jair Bolsonaro, na visita de hoje: é um movimento irreversível — disse.
















