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Pentágono conclui que secretário de Defesa dos EUA colocou tropas americanas em risco ao usar aplicativo de mensagens

O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, durante entrevista de TV em frente à Casa Branca, em Washington, em 7 de agosto de 2025 — Foto: Eric Lee/Bloomberg

Um relatório do inspetor-geral interino do Pentágono concluiu que o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, ao usar um aplicativo de mensagens privado para discutir ataques aéreos que seriam conduzidos por forças americanas no Iêmen no início deste ano, colocou tropas dos Estados Unidos em risco, segundo duas pessoas familiarizadas com as conclusões.

O relatório, cuja divulgação pública está prevista para esta quinta-feira, examinou a participação de Hegseth em um grupo de conversa no aplicativo Signal com outros altos funcionários do governo Trump — grupo que se tornou público depois de um jornalista ser adicionado por engano e escrever sobre o episódio.

A investigação interna do Pentágono concluiu que o uso do aplicativo por Hegseth criou o risco de comprometer informações do Departamento de Defesa que poderiam ter colocado em perigo pessoal militar e operações caso fossem divulgadas a adversários estrangeiros, de acordo com as duas pessoas que conhecem o documento e falaram sob anonimato.

O relatório também afirma que Hegseth se recusou a conceder uma entrevista ao inspetor-geral sobre o assunto e, em vez disso, apresentou apenas uma breve declaração por escrito, segundo essas pessoas. Uma versão confidencial do relatório foi entregue, na quarta-feira, a um pequeno grupo de membros do Congresso, em uma sala segura.

Relembre o caso

Em março, Michael Waltz, então assessor de segurança nacional, adicionou por engano Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista The Atlantic, a um grupo no Signal chamado “Houthi PC small group”, que incluía o vice-presidente JD Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o assessor da Casa Branca Stephen Miller.

Nele, o secretário de Defesa repassou uma linha do tempo detalhada dos ataques aéreos contra combatentes houthis e infraestrutura no Iêmen apenas duas horas antes das primeiras bombas caírem, no dia 15 de março. A campanha aérea, que o Pentágono chamou de Operação Rough Rider, durou cerca de seis semanas, período no qual os EUA atingiram mais de 800 alvos no Iêmen, utilizando aproximadamente US$ 1,5 bilhão em armamentos.

O gabinete do inspetor-geral anunciou, em 3 de abril, que revisaria o uso do Signal por Hegseth. No fim daquele mês, veio à tona que ele havia compartilhado indevidamente informações sensíveis em um segundo grupo no Signal que incluía sua esposa, seu irmão e seu advogado pessoal. O órgão afirmou, na época, que conduziria uma “avaliação” da conduta de Hegseth — termo usado para descrever revisões de violações não criminais das políticas do Departamento de Defesa, diferente de uma “investigação”, que é aberta quando há suspeita de ato criminoso.

O escritório é liderado por Steven A. Stebbins, que assumiu interinamente depois de Trump demitir seu antecessor, Robert P. Storch, como parte de uma onda de exonerações de inspetores-gerais no Executivo realizadas pelo presidente apenas quatro dias após tomar posse, em janeiro.

Alvo de críticas

A apuração não examinou se o uso do aplicativo por Hegseth era mais amplo, nem se informações sensíveis adicionais foram compartilhadas com pessoas não autorizadas. O relatório também não abordou se alguma das informações era confidencial no momento em que foi compartilhada. Observou, porém, que Hegseth, como secretário de Defesa, tem poder para determinar o grau de sigilo de informações e não analisou se ele buscou retirar o sigilo do material antes de discuti-lo em uma plataforma de mensagens não autorizada.

Os investigadores também concluíram que nem todas as mensagens foram preservadas de forma adequada, em conformidade com a Lei de Registros Federais, e que, por isso, se basearam extensivamente em informações publicamente disponíveis sobre as conversas.

A divulgação do relatório encerra uma semana difícil para Hegseth, que tem sido alvo de críticas relacionadas a uma série de ataques aéreos, em 2 de setembro, conduzidos pelo Comando Conjunto de Operações Especiais contra um pequeno barco a motor no mar do Caribe, que, segundo o Pentágono, estaria contrabandeando narcóticos.

As duas comissões do Congresso que supervisionam o Departamento de Defesa iniciaram investigações bipartidárias sobre as ações de Hegseth em relação a uma segunda onda de ataques contra sobreviventes da primeira ofensiva — incluindo a suspeita de que ele tenha ordenado que os bombardeios não deixassem sobreviventes, o que poderia configurar violação do direito internacional.

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