
Você sabia que o nosso cérebro conta com um serviço especial de limpeza, conhecido como sistema glinfático? Descoberto há pouco mais de uma década, trata-se de um sistema de limpeza, semelhante ao sistema linfático, que remove resíduos metabólicos e toxinas do sistema nervoso central. Ele age como um mecanismo de drenagem, removendo substâncias indesejadas e mantendo o cérebro limpo e saudável.
— Esse sistema glinfático, de drenagem e limpeza, tem o ápice do seu funcionamento durante as fases mais profundas do sono — conta a endocrinologista Jacy Maria Alves.
— Para que esse sistema funcione bem, é importante ter um sono de boa qualidade. Se a pessoa dorme pouco ou tem um sono fragmentado, não consegue atingir as fases profundas. O sono fica superficial, entrecortado e, consequentemente, não há uma otimização desse sistema de limpeza cerebral — completa o cardiologista Rafael Luís Marchetti.
Os médicos de Curitiba, que têm certificação em Medicina do Estilo de Vida, conduziram uma semana especial no Lapinha Spa sobre como transformar e manter hábitos saudáveis.
Nas palestras sobre a importância de adotar um estilo de vida saudável para viver mais e melhor, o casal destacou a importância de cuidar da qualidade sono, um dos pilares mais negligenciados da saúde.
— Durante o sono, ocorrem processos vitais, como recuperação celular e dos tecidos, modulação neuroendócrina, consolidação da memória e do aprendizado, além da limpeza cerebral — diz Jacy.
A questão é que o sono do brasileiro vai de mal a pior… Segundo dados da Associação Brasileira do Sono (ABS) e estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 65% da população relata ter problemas relacionados ao sono, entre eles demorar para dormir, acordar no meio da noite e ter dificuldade para pegar no sono, despertar cedo demais e sofrer interrupções da respiração dormindo (apneia).
— Nosso sono é dividido em duas fases principais: não REM (NREM) e REM. A primeira se subdivide em três estágios: N1 (sono leve), N2 (sono intermediário) e N3 (sono profundo). Durante a noite, o ciclo do sono alterna entre essas fases — explica Rafael.
Um dos fatores que atrapalha a qualidade do sono e impede as pessoas de passar por todas as fases é a alteração do ritmo circadiano, nosso relógio biológico interno. Ele regula os ciclos de sono e vigília, assim como outros processos fisiológicos, em um período de aproximadamente 24 horas.
Nosso ritmo circadiano é controlado por uma região do cérebro que atua como um marca-passo: ela recebe informações sobre a luz do ambiente através dos olhos, o que ajuda a sincronizar o relógio interno com o ciclo natural de dia e noite. Quando há luz, o cérebro envia sinais para o organismo reduzir a produção de melatonina, hormônio que promove o sono, e aumentar a produção de cortisol, que nos mantém alerta. Se trocamos o dia pela noite — ficamos acordados até tarde com frequência e dormimos durante o dia —, dessincronizamos desse relógio interno. E isso também tem nome: cronodisrupção.
A cronodisrupção refere-se à perturbação do ritmo circadiano, o relógio biológico interno do corpo, que regula funções como sono, alimentação e hormônios. Essa desregulação pode ter consequências negativas para a saúde, aumentando o risco de doenças como obesidade, diabetes tipo 2, problemas cardíacos, metabólicos e distúrbios do sono.
A boa notícia é que a qualidade do sono pode ser significativamente aprimorada por meio de de intervenções baseadas em evidências, chamadas de higiene do sono, e que consistem em manter horários fixos para dormir e acordar, inclusive nos fins de semana; manter o quarto escuro e silencioso; evitar o uso de telas (celular e computador) pelo menos uma hora antes de dormir; limitar o consumo de cafeína e álcool e evitar refeições pesadas à noite. Vamos colocar em prática?