
O real é a terceira moeda que mais perdeu valor frente ao dólar desde o “tarifaço” detalhado na última quarta-feira (2) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A informação consta em um ranking de 118 países elaborado pela agência classificadora de risco Austin Rating, com base em dados do Banco Central do Brasil (BC).
A queda acumulada do real a partir do dia 2 de abril chegou a 5,10% nesta terça-feira (8), dia em que o dólar voltou a encostar nos R$ 6 nas negociações. Conforme o levantamento, ao menos 58 países viram suas moedas se desvalorizarem no período.
A maior perda foi observada no dinar, a moeda da Líbia, que recuou 13,2%. Em seguida (e logo à frente do Brasil), vem o peso colombiano, com desvalorização de 5,8%.
Nesta terça-feira, o dólar comercial fechou a R$ 5,9973. Para a elaboração do ranking, entretanto, a Austin Rating considera as taxas de câmbio de referência Ptax, divulgadas diariamente pelo BC. Nessa modalidade, o dólar ficou cotado a R$ 5,9362.
O levantamento mostra que poucas moedas avançaram sobre o dólar nos últimos dias. Entre elas, estão o iene (2%), do Japão, e o franco suíço (3%), da Suíça.
O que explica a alta do dólar?
A disparada do dólar é uma reação do mercado à guerra comercial promovida por Trump. O receio dos investidores é de que o conjunto de taxas anunciado pelo republicano contra mais de 180 países e regiões leve a um cenário de inflação e recessão global.
O movimento gera um impacto negativo nos mercados de ações, já que o cenário de incertezas empurra investidores para ativos mais seguros, como as Treasuries (títulos públicos norte-americanos) e o dólar, fortalecendo a moeda frente a outras divisas.
Outro efeito é a queda nas bolsas de valores. Diante do sentimento de aversão ao risco, bolsas dos EUA, da Ásia e da Europa despencaram nos últimos dias. No Brasil, o Ibovespa, principal índice de ações, acumulou quatro quedas seguidas até esta terça.
As preocupações aumentaram nos últimos dias após a China decidir, em resposta aos EUA, retaliar os norte-americanos com tarifas de 34% sobre produtos importados do país — taxa da mesma magnitude aplicada por Trump contra os asiáticos.
A crise, então, escalou depois que Trump anunciou uma taxa adicional de 50% sobre os chineses caso o país não voltassem atrás em relação à retaliação. O republicano estabeleceu um prazo até as 13h desta terça para que a China retirasse a tarifa, o que não aconteceu.
Pelo contrário: autoridades chinesas disseram que não voltariam atrás e que estavam prontas para seguir respondendo aos aumentos tarifários, apesar de ponderarem que “em uma guerra comercial não há vencedores”.
Assim, a nova tarifa de 50% dos EUA sobre produtos chineses entrou em vigor nesta quarta-feira (8). Agora, a soma de todas as taxas aplicadas pelos norte-americanos contra a China chegou a uma alíquota de 104% — contribuindo para um cenário de incerteza ainda maior nos mercados.