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Musk faz live com líder de extrema direita alemã em meio a acusações de interferência em política interna europeia

Elon Musk e Alice Weidel, líder do AfD — Foto: AFP

Após gastar mais de R$ 1,5 bi para ajudar a eleger Donald Trump nos Estados Unidos, o bilionário Elon Musk agora tem voltado a atenção para a Europa, usando sua influência e alcance para atacar governos, criticar leis e expressar apoio a partidos de extrema direita, como o alemão Alternativa para a Alemanha (AfD). Sua próxima investida será nesta quinta-feira: uma live com a líder da sigla, Alice Weidel, em sua plataforma X, a poucas semanas das eleições nacionais alemãs. A iniciativa, porém, provocou revolta entre líderes e legisladores da União Europeia (UE), que pediram a Bruxelas, na segunda-feira, que use todo o seu poder legal para conter o magnata da tecnologia e suas interferências políticas no bloco.

A Comissão Europeia, em resposta, afirmou que Musk pode enfrentar problemas legais sob o regulamento digital da UE, caso a live seja vista como vantagem à sigla de Weidel em relação aos outros partidos antes das eleições alemãs de 23 de fevereiro.

O AfD, que tem crescido cada vez mais na Alemanha, tem hoje entre 18% e 20% das intenções de voto nas pesquisas, com altas chances de formar a segunda maior bancada no Parlamento alemão, o Bundestag.

Musk x Scholz

Mas esse não é o primeiro flerte de Musk com o AfD. Em novembro, após o colapso da coalizão de centro-esquerda do chanceler alemão, Olaf Scholz, Musk o chamou o de “tolo” no X, intensificando as críticas após um ataque mortal em um mercado de Natal, que matou 6 pessoas e deixou mais de 200 feridas na cidade de Magdeburgo: “Scholz deveria renunciar imediatamente”, postou, acrescentando: “idiota incompetente”. (Ironicamente, o suspeito, um médico saudita que foi preso, é simpatizante de ideias de extrema direita, tendo inclusive apoiado o AfD, disseram fontes à CNN na época do ataque.)

No fim de 2024, Musk voltou a atacar Scholz, prevendo sua derrota na eleição alemã, chamando o AfD de “salvador do país”. “O chanceler Oaf Schitz, ou qualquer que seja seu nome, perderá”, postou no X. Também chamou o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier de “tirano” por criticar o AfD em um discurso.

Scholz, por sua vez, ignorou os insultos do bilionário e criticou seu apoio ao partido, destacando o extremismo de direita da legenda, “que prega a reaproximação com a Rússia de [Vladimir] Putin e quer enfraquecer as relações transatlânticas”.

— Não acredito em cortejar a favor de Musk. Fico feliz em deixar isso para os outros — disse Scholz em entrevista recente ao semanário alemão Stern. — A regra é: não alimente o troll.

Musk x Starmer

Para além da Alemanha, Musk estendeu seus ataques ao governo britânico. Pediu que o rei Charles dissolvesse o Parlamento, acusando diretamente o premier Keir Starmer de ser “cúmplice de estupros” no Reino Unido durante seu mandato como diretor do Ministério Público entre 2008 e 2013, por supostamente não combater gangues de aliciamento de menores. Os casos ocorreram entre 1997 e 2013, vindo à tona em um relatório no ano seguinte.

Musk e políticos da oposição britânica pediram uma nova investigação nacional sobre os escândalos depois que a ministra de Proteção Contra Violência Doméstica, Jess Phillips, instou ao conselho de uma das cidades onde casos foram relatados a conduzir a investigação localmente, argumentando maior eficácia. Os comentários incendiários de Musk levaram Phillips a receber múltiplas ameaças on-line e ela disse “temer por sua segurança”.

Starmer, por sua vez, defendeu-se das acusações, as quais chamou de mentirosas, e enfatizou que tomou medidas para garantir que os responsáveis pelos abusos sexuais fossem levados à Justiça.

— Aqueles que estão espalhando mentiras e desinformação o mais longe e amplamente possível não estão interessados ​​nas vítimas, eles estão interessados ​​em si mesmos — disse Starmer, sem citar Musk nominalmente.

Musk x Trump?

Tomar qualquer medida legal contra o bilionário sobre o uso de sua plataforma para atacar líderes europeus já seria um passo difícil, e o desafio se torna ainda maior considerando que, em menos de duas semanas, ele assumirá um cargo oficial no segundo mandato de Trump. Isso significa que, ao ameaçar com investigações ou até mesmo uma multa por suas ações, a UE corre um risco de um grande e indesejado confronto com Washington.

Por haver muito em jogo, as implicações desses atos de Musk no governo Trump ainda são incertas. Mas para o professor de Política e co-diretor do Centro para a Grã-Bretanha e Europa da Universidade de Surrey, Daniele Albertazzi, a duração da aliança entre os dois tem prazo de validade.

Em entrevista ao GLOBO, Albertazzi lembrou que Musk já teve conflitos dentro do movimento MAGA (“Make America Great Again”) e descreve as duas figuras como “altamente imprevisíveis”. Além disso, sugeriu que Trump, sendo a figura de maior autoridade nessa relação, pode tentar reafirmar seu domínio afastando Musk de seu entorno, assim como fez com Steve Bannon e outros aliados.

— Musk também é uma figura extremamente poderosa. Ele não é apenas alguém que faz muito barulho, mas alguém com enorme alcance e influência — disse Albertazzi. — E ele não é alguém que recua em relação às suas opiniões e visões, nem mesmo diante de Trump. É como ter muitos galos no mesmo galinheiro.

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