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Baianos deram adeus rápido à expectativa de presidirem a Câmara dos Deputados

Foto: Reprodução/ Instagram

Esvaiu-se numa velocidade até surpreendente a possibilidade de um baiano presidir a Câmara dos Deputados após quase 30 anos. Os dois postulantes, Antônio Brito (PSD) e Elmar Nascimento (União), que até agosto eram duas das principais apostas, foram obrigados a recuar depois que Hugo Motta (Republicanos-PB) recebeu as bênçãos do presidente Arthur Lira (PP-AL) e se consolidou praticamente como candidato único para o próximo biênio. Elmar até que tentou resistir, mas, ao fim, acumulou mais um quase para a carreira política.

Ambas as retiradas de candidaturas foram estratégicas, em um contexto mais amplo. O todo poderoso PSD foi quem primeiro “deu pra trás” e tirou Brito de cena. Era um movimento esperado até quando o deputado baiano ainda figurava em alta como candidato. Havia fragilidade na construção discursiva e o fato de Arthur Lira não colocar ostensivamente Brito como um possível sucessor colocava dificuldades para que a candidatura se tornasse viável. No entanto, Gilberto Kassab sabia onde pisava e foi quem articulou o processo evitando assim uma fadiga maior que deixasse Brito em maus lençóis.

Como o PSD pensa a longo prazo, ficar sem as duas casas agora significa que, no futuro, a sede será maior. Só que esse não é um problema pra atual legislatura, muito menos para o governo Luiz Inácio Lula da Silva. O bote foi adiado, mas o partido conhece demais as estruturas de poder e sabe aguardar o momento adequado para fazer pleitos. Não é a toa que, sendo quase que o caçula das grandes legendas, saiu das urnas em 2024 como o maior partido do país.

Já Elmar foi resiliente. Mesmo após abortarem a candidatura dele antes de qualquer movimentação do próprio deputado, soube não sair completamente por baixo, mantendo certo nível de proximidade com Lira e salvaguardando o pedaço de poder que conquistou na Câmara. Apesar da possibilidade aventada de cair atirando, Elmar foi bem mais prudente do que a história dele indicaria. Garantiu a sobrevivência política, com certo grau de influência sobre os rumos da pauta da Casa e capacidade de negociação com o governo, ao mesmo tempo em que, se mantendo fiel a Lira, mantém a ascendência do alagoano sobre os pares.

De azarão, Hugo Motta pode superar até Lira numa votação que consolidaria a sobreposição dos poderes dos parlamentares sobre qualquer outro tipo de poder. E a forma como a base do governo se comportou nessa sucessão mostra que o Executivo se mantém acuado frente ao poderio adquirido ao longo dos últimos anos pelo Congresso Nacional. Antônio Brito e Elmar Nascimento foram bons peões – ou até mesmo cavalos no tabuleiro de xadrez. Porém coube a outros personagens a condução ao xeque-mate. Ao provável futuro presidente da Câmara só resta a expectativa de não ser ele uma rainha da Inglaterra nesse campo minado da política brasileira.

BN