
O Exército de Israel afirmou que um bunker do Hezbollah localizado debaixo de um hospital em Beirute guarda “milhões de dólares” em ouro e dinheiro, que seriam usados para financiar as operações do grupo xiita. O anúncio veio após uma série de ataques contra uma associação financeira acusada por Israel de ser peça-chave na arquitetura financeira do grupo.
Em entrevista coletiva, o porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, afirmou que o bunker é um dos locais seguros usados por Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah morto no final de setembro em Beirute, apontando que ele está localizado debaixo do Hospital Geral Sahel, na região sul da capital libanesa.
— O bunker foi deliberadamente colocado sob um hospital, e ele contém mais de meio bilhão de dólares em dinheiro e ouro. Esse dinheiro poderia ter sido usado para reabilitar o Líbano, mas foi para reabilitar o Hezbollah — disse Hagari, em declarações à imprensa. — Aeronaves da Força Aérea [israelense] estão observando o local e continuarão a observá-lo.
Segundo Hagari, citando informações da inteligência israelense, há um conjunto de túneis, acessados a partir de dois edifícios próximos, que levam aos cofres do Hezbollah, além de instalações para reuniões e para permanências de “média e longa duração”. No vídeo, ele apresentou o que seria um mapa dessas instalações, repetindo um roteiro usado também na guerra em Gaza, onde haveria centenas de quilômetros de túneis debaixo da terra.
Imediatamente após as declarações, o diretor do hospital, Fadi Alameh, confirmou que o local estava sendo esvaziado por temor de que pudesse ser bombardeado. Uma possibilidade que, ao menos por enquanto, Israel nega.
“Não visamos [alvejar] o Hospital Sahel, mas apelamos ao governo libanês, às instituições governamentais libanesas e às organizações internacionais para que lhes devolvam o dinheiro que foi roubado dos cidadãos do Líbano”, disse, em publicação no X, o porta-voz para a imprensa árabe do Exército israelense, Avichay Adraee. “A nossa guerra não é contra os cidadãos do Líbano, mas contra uma sangrenta organização terrorista que o Irã continua a armar e a dirigir de acordo com os interesses iranianos.
Citado pela rede libanesa al-Jadid, Alameh disse que as informações sobre o bunker subterrâneo são falsas e que “o Hospital Sahel não tem nada a ver com os partidos”, fazendo um pedido para que os militares do Líbano inspecionam o local e comprovem que não há túneis ou abrigos debaixo do prédio.
Com o cair da noite em Beirute, ao menos quatro pessoas morreram e 20 ficaram feridas em bombardeios próximos a um outro hospital, o Rafic Hariri, a maior instalação médica pública do Líbano, que é mantido pelo Estado libanês. Um correspondente da rede al-Jazeera afirmou que um dos projéteis caiu a menos de 500 metros da instalação.
Desde a noite de domingo, foram realizados dezenas ataques aéreos contra instalações ligadas ao al-Qard al-Hassan, responsável por oferecer serviços financeiros a civis em áreas onde o Hezbollah tem forte presença, mas acusada pelos EUA e Israel de servir como fachada para o financiamento do grupo xiita pelo Irã.
As ações foram concentradas no subúrbio de Dahiyeh, principal bastião do Hezbollah, e uma das filiais da associação atingida por mísseis fica a menos de 500 metros do aeroporto internacional de Beirute. Cidades no sul do país, incluindo Tiro e Nabatiyeh, também sofreram bombardeios, assim como localidades no Vale do Bekaa, outra área onde o Hezbollah se faz presente.
Fundado nos anos 1980, o al-Qard al-Hassan se tornou uma espécie de instituição bancária informal, que oferece serviços e linhas de crédito para uma parcela considerável da população, especialmente desde o agravamento da crise financeira no país árabe. Contudo, o al-Qard não tem licença formal para funcionar como um banco, e foi acusado pelo governo dos EUA de ser uma instituição de fachada para permitir que o Hezbollah — considerado uma organização terrorista por vários países — acesse o sistema financeiro internacional.
Ao justificar os bombardeios das últimas horas, Israel afirmou que o al-Qard é usado pelo grupo xiita para armazenar suas reservas, em boa parte vindas do Irã, destinadas à compra de armas e pagamento de salários aos membros de sua ala militar.
— O propósito desses ataques é atingir a capacidade do Hezbollah de funcionar durante a guerra, mas também depois, reconstruir e rearmar a organização no dia seguinte, e [atingir] o controle que o Hezbollah tem sobre grandes partes da sociedade libanesa — disse um oficial de inteligência israelense a repórteres, citado pela BBC.
Também nesta segunda-feira, Daniel Hagari disse que o comandante da unidade do Hezbollah responsável pelo transporte de armas do Irã para o Líbano foi morto em um ataque aéreo em Damasco. Segundo o porta-voz militar, o homem, que não teve o nome divulgado, também estava à frente de iniciativas econômicas do grupo, incluindo a montagem de fábricas e da exportação de gás para a Síria — ele estava no posto desde o começo do mês, após a morte de seu antecessor, Muhammad Ja’far Qasir, morto em Beirute. O Hezbollah não se pronunciou.
De acordo com a imprensa síria, houve um ataque aéreo contra a capital nesta segunda-feira que deixou dois mortos e três feridos, e a organização independente Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que documenta a guerra civil, disse que uma das vítimas era cidadã de outro país.
















