Publicidade

Doenças respiratórias na ordem do dia

A fibrose pulmonar faz com que os pulmões fiquem enrijecidos, o que dificulta a respiração — Foto: Getty Images

Nestas semanas de grande apreensão entre todos nós, pelo impacto a curto e a longo prazos que as atuais queimadas e o número de substâncias químicas e materiais particulados finos que elas geram, poderão trazer, somadas ao clima seco que persiste em várias regiões do Brasil, acometendo largas áreas rurais e urbanas, nos interrogamos, ainda com as cicatrizes abertas da última pandemia que nos assolou, sobre o quanto estamos despreparados para lídar com as mudanças climáticas e seus fenômenos ambientais e sobre a saúde humana, animal e vegetal. Seria impensável até como fake news, que nossa umidade do ar se comparasse ao Deserto de Saara, como dados atuais de estações de superfície efetivamente revelam, em várias áreas do país.

Soma-se a tantas preocupações e que tem sido objeto de estudos e de medidas de precaução, o comportamento epidemiológico singular das viroses, que tradicionalmente se denomina “de inverno” e que perderam sua sazonalidade, estando hoje presentes como causa de complicações e de hospitalizações nos dois extremos da vida, entre lactentes e pessoas idosas.

Nesse cenário, certos de que uma sociedade médica de especialistas pode e deve estar engajada no interesse público, no que diz respeito às melhores descobertas, passamos há dois dias, 8 de setembro, pelo que se marca (e não celebra) como o Dia da Fibrose Cística, essa doença genética, que atinge 7.500 brasileiros conhecidos, de acordo com nosso registro nacional, e dos quais apenas 25% chegavam a uma idade superior a 18 anos, antes do tratamento ora existente. Fizemos, sociedades médicas e pacientes, todo o esforço necessário, com os mais robustos pareceres técnicos baseados em estudos, para subsidiar a decisão de incorporar a chamada terapia tripla (composta de três moduladores da proteína defeituosa no gene CFTR, que caracteriza a doença). Hoje, com o medicamento fornecido pelo Ministério da Saúde, já há quase mil pacientes em tratamento, com uma nova qualidade e sobretudo real esperança de vida.

Ainda, ao longo deste ano complexo e ao mesmo tempo pródigo, marca esses dias outra grande conquista para os portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), reconhecidos como enfisema pulmonar. Para esses pacientes, com a aprovação da chamada terapia inalatória tripla (composta por um broncodilatador, um corticoide inalatório e um anticolinérgico de longa ação) baseado em estudos de custo efetividade, recebemos com grande satisfação o resultado da consulta pública e avaliação pela CONITEC, o órgão que avalia a incorporação de medicamentos e novas tecnologias no SUS. Além de propiciar melhor qualidade de vida pelo controle dessas doenças, assegurando mais autonomia a essas pessoas, ainda, estaremos contribuindo para a redução de descarte desses dispositivos, que são nocivos ao meio ambiente.

Estando no Congresso Europeu de doenças respiratórias, evento que reúne neste ano em Viena 25 mil especialistas do mundo todo, pudemos observar que essas aprovações nos colocam mais perto dos países desenvolvidos, como também da participação de organizações da sociedade civil, muito ativas em países europeus na reivindicação consciente das melhores terapias, para as chamadas doenças crônicas não transmissíveis. Nesse sentido saúde respiratória, vista como empoderamento da sociedade foi muito bem discutido e inclusive mostrando resultados de enquetes que revelam que 83% dos consultados manifestaram desejo de participar em eventos médico-científicos, inclusive como palestrantes, e contribuir como revisores de conteúdo à luz de prioridades.

Questões como tempo de duração de patentes, razão de escolha de uma determinada doença como alvo de investigação, tempo necessário e custo para a materialização de um novo fármaco, porque a indústria farmacêutica investe tão mais na educação de médicos em detrimento da educação de pacientes; entraves e normas regulatórias, todas foram e tem sido discutidas nessa salutar coalizão entre a indústria, a academia e a sociedade civil, o que certamente revela um amadurecimento civilizatório muito bem-vindo.